Diabetes – como superar esse problema

Estamos sofrendo uma silenciosa, mas gravíssima epidemia de diabetes mellitus.
De 1983, ano em que eu era estudante de medicina, até 2008 houve um aumento de sete vezes na prevalência do diabetes tipo 2 em todo o planeta. Nos três anos seguintes, de 2008 a 2011 foram diagnosticados mais de 100 milhões de novos casos.

Estima-se que ⅓ da população brasileira tenha diabetes ou pré-diabetes. Denominamos pré-diabetes quando há o que chamamos de síndrome metabólica ou resistência à ação da insulina. Indivíduos que têm resistência celular à ação da insulina precisam produzir muito mais desse hormônio.

Vejamos:

A insulina é um hormônio que tem por finalidade intermediar a entrada da glicose nas células. É a glicose, que dentro das células, irá liberar a energia armazenada em suas ligações químicas para ser utilizada nas funções vitais.

Mas, quando há uma permanente e excessiva oferta de glicose para as células, elas criam uma resistência à ação da insulina como forma de dizer um BASTA – já temos o suficiente!

Entretanto, o elevado nível de glicose no sangue, estimula o pâncreas a produzir ainda mais insulina. Indivíduos insulino resistentes chegam a ter níveis sanguíneos  de 5 a 7 vezes maiores do que as pessoas sadias.

Acontece que a insulina tem também outras funções: ela favorece a absorção de nutrientes como ácidos graxos, proteínas e vitaminas. Então, sem a ação da insulina as células ficam famintas e desnutridas, resultando em aumento do apetite e ausência de saciedade após as refeições. É por isso que, com o passar do tempo, os diabéticos apresentam uma série de problemas de saúde como hipertensão arterial, depressão, disfunção sexual, vários tipos de câncer, infertilidade, acne, entre tantos outros… Inclusive Alzheimer – que atualmente é considerado diabetes tipo 3.

Devido à dificuldade da glicose penetrar nas células, o organismo não sintetiza glicogênio suficiente. São as reservas de glicogênio que mantêm a glicemia normal no período entre as refeições, num processo chamado de gliconeogênese.

Para piorar, a glicose circulante é armazenada em forma de gordura, que por sua vez aumenta ainda mais a resistência insulínica.

O pâncreas, infiltrado por gordura,  passa a ter sua função exócrina – de produzir enzimas digestivas – prejudicada. A má digestão leva a  inchaço e sensação de pressão na parte superior do abdome, dores abdominais e nas costas, além da má absorção de proteínas.

E, porque as células não conseguem absorver os nutrientes adequadamente, temos todos esses extra triglicerídeos e colesterol elevados no sangue – quando deveriam estar nos tecidos.

Com o passar dos anos, se as correções dietéticas não forem feitas, as células beta que produzem a insulina esgotam sua capacidade e a pessoa passa a ter também o diabetes tipo 1 e precisa injetar insulina.

Um número enorme de pessoas desconhece que têm essas alterações, porque o nosso organismo é muito resistente. Demora cerca de 10 anos para que os problemas sejam percebidos clinicamente.

O que podemos e devemos fazer?

Seleção de alimentos ricos em gorduras saudáveis.
  1. O objetivo principal é manter o nível de insulina baixo. Pessoas diabéticas não devem consumir nenhum tipo açúcar. Não se engane pensando  que pode consumir com moderação. Zero açúcar e sucos!
  2. Aumentar a ingestão de potássio, porque ele ajuda baixar a insulina e também a armazenar o glicogênio. Coma vegetais, muitos vegetais mesmo!
  3. Aumentar a oferta de vitaminas do complexo B – especialmente a vit. B1 – as leveduras nutricionais são uma excelente fonte. Consumidores de muito açúcar chegam  a perder pela urina 15 vezes mais potássio e vitaminas do complexo B.
  4. Ingerir proteínas, especialmente no lanche matinal. Isso ajuda a manter a saciedade por períodos mais prolongados.
  5. Aumentar a ingestão de gorduras naturais presentes nas nozes, castanhas, amêndoas, macadâmia, abacate, azeite de oliva extravirgem, coco, linhaça, ovos e carnes.

Precisamos desfazer alguns mitos:

  1.  O diabetes é uma doença genética.

Se nossos genes mudam apenas 0.1% a cada 20 mil anos. Como explicar ter havido um aumento de 7 a 8 vezes na incidência de diabetes nos últimos 20 anos? O que mudou foi o nosso meio ambiente, nossa dieta, nosso nível de estresse…

  1. Não há cura para o diabetes

O diabetes, como a imensa maioria das doenças, é o resultado de desequilíbrios na fisiologia do corpo provocados pela ingestão de alimentos industrializados, por toxicidade ambiental, más bactérias intestinais, sensibilidade alimentar, deficiências nutricionais e uma série de outros fatores que alteram o funcionamento normal do organismo. Fazendo as correções, o diabetes é perfeitamente reversível.

  1. Diabéticos podem comer doces com moderação.

Isso não é recomendado, porque não funciona! Tão logo a pessoa comece a comer alimentos ricos em carboidratos, a glicemia aumenta rapidamente, e com ela a insulina. Isso provoca em seguida uma queda acentuada da glicose – o que aumenta o desejo de querer comer mais e mais.

  1. A ingestão de carboidratos como pães, massas e arroz é necessária porque produz energia indispensável à sobrevivência.

Mentira. Funcionamos melhor quando utilizamos como energia as cetonas – um tipo especial de gordura presente nos alimentos citados anteriormente. Estas dispensam a ação da insulina para entrar nas células. Comer gorduras boas não engorda e não aumenta a glicemia. Comer açúcar, sim! A combinação dos dois, como nos sorvetes por exemplo, é realmente uma bomba.

Os exercícios físicos devem ser intensos.

Como vimos, o diabetes é uma doença silenciosa e de consequências  desastrosas. Mas, desde a década de 70, estudos nos ensinam a predizer, com 20 anos de antecedência, se uma pessoa irá desenvolver diabetes tipo 2. Basta fazer dosagens de glicose e de insulina no sangue. Mesmo tendo a glicemia normal, indivíduos predispostos produzem muito mais insulina. É justamente o excesso crônico de insulina que tornará as células resistentes à sua ação.

O reconhecimento dessa predisposição permite evitar que o diabetes se instale.
Com uma dieta adequada, uso de  alguns suplementos como ômega 3 e vitamina D, além da prática de  exercícios físicos, a resistência à insulina pode ser revertida em pouco tempo. Contudo, para que essa população susceptível não venha a desenvolver diabetes, esses cuidados devem ser mantidos por toda a vida.

Acho importante destacar que a nutrição é o principal elemento para prevenir e reverter doenças.

Façamos o que nos ensinou Hipócrates – o pai da medicina:

Que seu alimento seja seu remédio, e que seu remédio seja seu alimento.”

Escrevendo esse artigo, lembrei-me de parte de um pequeno poema que escrevi logo após minha primeira aula sobre diabetes ainda no início da faculdade.

O diabético descompensado

Está mergulhado num lago

Onde carboidratos abundam.

É, porém, carente de glicídio

Lá bem onde lhe interessa.

E a morte pode advir

Da carência do que abunda.

Dr. Djalma Bambirra
Acredito que a verdadeira arte da medicina não é combater doenças, mas promover saúde.

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